sábado, 12 de abril de 2014

Marcélia Cartaxo | Sala de Cinema


Entrevista no programa Sala de Cinema - Comentários de Walter Carvalho.

Marcélia Cartaxo é uma atriz paraibana que foi descoberta por Suzana Amaral em uma apresentação teatral. Aos 19 anos interpreta Macabéia em "A Hora da Estrela", e com esta personagem aparece para o Brasil e o mundo. Ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília e se consagra no Festival de Berlin. Tem quase 30 filmes na carreira. "Batismo de Sangue", de Helvécio Ratton, "Césio 137 -- O Pesadelo de Goiânia", de Roberto Pires e "Madame Satã", de Karin Aïnouz, estão entre eles.Nunca antes uma atriz brasileira havia ganho um prêmio em um grande festival internacional: Marcélia Cartaxo foi a primeira, em 1985, com A Hora da Estrela. O filme foi relançado em cópia restaurada no Festival do Rio. De Cajazeiras até a remiação em Berlim, ela conta histórias do filme. 
Tudo começou com o grupo de teatro Terra, do qual Marcélia fazia parte em Cajazeiras, e que revelou também Nanego Lira, Soia Lira, Eliézer Rolim e Luiz Carlos Vasconcelos. O grupo estava em São Paulo para três apresentações em um evento. “A gente recebeu uma proposta para fazer o Mambembão, onde peças do Nordeste se apresentavam no sul e as de lá vinham para cá”, lembra a atriz. O espetáculo chamava-se Beiço de Estrada, escrito e dirigido por Eliézer Rolim. A diretora Suzana Amaral, já em busca da protagonista de sua versão para o livro de Clarice Lispector, estava na plateia.
Suzana assistiu às apresentações com o ator paraibano José Dumont, que já estava escalado no elenco, e convidou Marcélia para viver Macabéa. O ano era 1982 e Marcélia tinha 18 anos. Foram precisos mais dois para a diretora conseguir o financiamento da Embrafilme. Enquanto isso, as duas foram se correspondendo. “Ela foi me dirigindo por carta”, recorda Marcélia. “Eu costurei uma camisola feita de saco de açúcar que uso no filme, ela me disse para ir à periferia para observar as Macabéas”.
Marcélia ainda não tinha lido A Hora da Estrela e ganhou um exemplar de Suzana Amaral. “Eu achava o livro muito confuso. Tinha a história de Macabéa e Olímpio, mas também a do narrador”, conta Marcélia. “Clarice era considerada uma escritora difícil de adaptar. Mas li o livro umas 20 vezes”. Mesmo com essa preparação, os produtores exigiram que a paraibana se submetesse a um teste e disputasse o papel com outras atrizes. “Quando fiz o teste, eles ficaram todos enlouquecidos”, recorda. “Foi a cena em que Macabéa datilografa e come um pão com salsicha e a salsicha escapole do pão. Suzana só foi me dar o roteiro quando passei no teste”.
Enquanto o resto do elenco – o velho amigo José Dumont, Fernanda Montenegro, Tamara Taxman, Denoy de Oliveira – foi hospedado em um hotel, Marcélia ficou isolada em um quarto na produtora. “Ninguém podia falar comigo, me tocar. No set, eu tinha que ficar em uma cadeira, voltada para a parede! Tudo pra eu não perder a brejeirice”, conta.
Depois do filme pronto, a primeira parada de A Hora da Estrela foi o Festival de Brasília, no final de 1985. Foram 12 prêmios, incluindo filme, melhor atriz, para Marcélia, e melhor ator, para José Dumont. Em fevereiro de 1986, foi a vez do Festival de Berlim. Marcélia teve que conseguir dinheiro e roupas para enfrentar o frio da Europa.
Lá, enfrentou mais problemas. “O filme passava no segundo dia. No dia da exibição, resolvemos ir de ônibus do hotel para o cinema. Aí, fui agredida no ônibus por um homem, que ficou me batendo. Depois que ele desceu, soubemos que era um neurótico de guerra que achou que eu era turqueza”, lembra. Depois da exibição, o público alemão na rua a confundia, mas com a própria Macabéa – tal foi a repercussão de seu trabalho.”Eu só podia ficar seis dias e o cônsul perguntou se a gente precisava de alguma coisa. Eu disse: "Quero ficar até o fim do festival".
No dia da premiação, Marcélia estava hospeada na casa de uma brasileira. Suzana, que estava no hotel, a chamou. “Ela me disse: "Marcélia, senta aí". A diretora revelou que A Hora da Estrela ganhou três prêmios: o prêmio Ocic (da Organisation Catholique Internationale du Cinéma et de l’Audiovisuel), o prêmio Cicae (da Confédération Internationale des Cinémas d’Art et d’Essai Européens) e o de melhor atriz.
O prêmio foi entregue por Gina Lollobrigida, presidente do júri. “Ela disse que ficou muito chocada com o filme e perguntou se aquilo existia mesmo no Brasil. E eu respondi que haviam centenas de Macabéas em São Paulo”, conta Marcélia.

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